Jonatan tirando neve no quintal de casa
Janeiro de 2010
Os primeiros dias do ano novo foram passados dentro de casa, pois a neve e o frio deixavam esses brasileiros com receio de sair.
As árvores ficaram lindas com toda aquela neve
A temperatura havia caído bastante e tudo foi ficando cada vez mais branco. E pouco a pouco percebemos que a paisagem nevada é muito bonita. Claro que sair para fora de casa não era nada agradável.
Rua em frente de nossa casa
Um sábado que ficamos e casa e assistimos os cultos pela televisão a temperatura chegou a inacreditáveis -24 (isso mesmo, 24 graus negativos).
Mas fomos à igreja no último sábado do ano de 2009 apesar do frio.
De carro até que não é difícil, mas de ônibus, metrô e bonde, fica um pouco mais difícil.
Estamos indo ao que eles chamam de igreja internacional. O motivo é que tem pessoas de diversas partes do mundo. E o culto é traduzido para o inglês.
Aqui temos como amigo latino o Mário, um panamenho que vive na Ucrânia. Mas ainda não encontrei nenhum brasileiro. Mas em compensação fizemos amizades com diversos irmãos ucranianos, americanos, russos e outros que eu nem imagino de onde são. Lêmbre-se de que eu não falo a língua deles ainda.
Tivemos Santa Ceia no último sábado do ano e nos convidaram para passar o final do ano juntos em uma casa dos irmãos.
Chegou o dia 31 e o pastor nos ligou e perguntou: "Vocês vêm?"
Com todo aquele frio, a vontade era dizer: "Sinto muito, quem sabe no próximo ano ."
Mas ele fez tanta questão, que eu e o Samuel nos aventuramos a sair. A Priscila não estava muito bem para sair em uma noite tão fria.
Andamos os 800 metros pela neve até o metrô. A temperatura era em torno de -10.
O pastor estava nos esperando na estação e andamos até o apartamento onde estavam nos esperando.
Curiosamente, a maioria não falava inglês, e isso, claro, dificultou nossa conversa.
O programa iniciou com algumas palavras da Bíblia por nosso pastor e depois oramos juntos. O apartamento era simples, mas percebi que havia um grande amor que unia aqueles irmãos.
Mas eles foram muito amáveis e jantamos juntos. Claro que tinha sopa, repolho, cenoura e batata. Mas tinha outras coisas mais, inclusive alguns bolos.
Depois tivemos um animado Amigo Secreto onde eu ganhei um Novo Testamento em russo, que creio será muito útil.
Depois de algum tempo, disse a eles que tinha que ir embora, afinal de contas a Priscila tinha ficado em casa. Mas eu tinha um outro convite: o Pr. Daniel Reband convidou-me para passar o final do ano com eles.
Jonatan em frente à União Ucraniana, chegando ao trabalho um dia pela manhã
Cheguei em casa, já eram mais de 9 da noite. Liguei para o Pr. Daniel e ele disse: "Venha! Estamos esperando com a ceia na mesa."
Não teve como dizer não. A casa dele é apenas uns 30 metros de nossa casa. Mas não importa a distância, se o frio é de -10, você tem que se proteger todo.
Ele e a esposa estavam esperando. Ele também não é Ucraniano e estava longe da família, assim nos unimos e sua esposa, a Ludimila, tinha feito muita comida. Tivemos que comer de novo, ainda que só um pouquinho.
Pouco antes da 1/2 noite nos despedimos e fomos para casa. Teve alguns fogos, mas nada se compara com o que estávamos acostumados no Rio ou em São Paulo.
Samuel brinca com bola de neve
Estudando Russo
Nesse prédio funciona a escola onde estudamos russo
Dia 11 de janeiro as aulas de russo recomeçaram. Temos esperança de que a cada dia aprendamos um pouquinho mais.
Quando chegamos, eles disseram que em três meses aprenderíamos russo, mas eu sinceramente duvido. Quem sabe em três anos... (rsrs)
Mas não desanimamos. Vamos estudando, brincando com o estudo e olhe que até parece que está mais fácil.
Vista de Chisinau, num domingo de incríveis -22
Visitando Chisinau pela primeira vez
No dia 21 de Janeiro saí com o Pr. Daniel e o Pr. Peter em direção à Moldova (Moldávia). Vamos transmitir ao vivo um evento evangelístico que ocorrerá em março.
Estávamos levando boa parte do equipamento.
Normalmente, no Brasil, colocamos tudo em cases e embalagens apropriadas, mas o Pr. Daniel pediu-me que pusesse tudo em pequenas peças e embaladas de forma mais caseira e dentro de sacolas que não chamassem a atenção. Portanto tínhamos conosco alguns equipamentos todos embalados de forma totalmente diferente.
Igreja número 4 em Chisinau, Moldova
O dia 21 amanheceu nevando e o frio passava dos -14. Mas mesmo assim saímos de casa por volta das 15 horas. Anoiteceu logo, pois aqui, nessa época do ano, anoitece às 16 horas.
A estrada me parecia muito perigosa coberta de gelo e neve. A neve caía fininha. Dentro do carro, embora o aquecedor estivesse ligado, estava frio. Eu estava todo encapotado, com luvas, boné com protetor de orelhas, cachecol, mas confesso que estava com frio.
Já eram perto de 9 horas da noite quando chegamos na pequena cidade da fronteira com a Moldova. O Pr. Daniel telefonou e logo apareceram nossos irmãos. Eram cerca de 4 ou 5. A neve caía agora mais abundante e nós ali fora no frio e na neve, fizemos oração agradecendo a proteção de Deus e pedindo que Ele nos ajudasse a levar os equipamentos para o outro lado da fronteira.
Um a um aqueles irmãos colocaram nossos equipamentos em suas sacolas e saíram em meio à noite fria com a neve caindo.
O Pr. Daniel me pediu para entrar no carro. Ele tem sido muito cuidadoso comigo. Ele sabe que eu não estou acostumado com esse clima e posso ficar doente mais fácil do que eles que nasceram por aqui.
Chegamos à fronteira perto de 10 da noite. Confesso que parecia cena de filme. A antiga fronteira, da época dos soviéticos, ainda mantêm um ar de algo proibido e misterioso.
Como não é comum um brasileiro por essas bandas, os guardas olhavam meu passaporte como se estivessem vendo um alienígena. Talvez uma celebridade. (rsrs)
Passamos pela fronteira da Ucrânia e entramos em uma ponte estreita que nos levou ao outro lado do rio. Agora estávamos na Moldova (Moldávia).
Alí aconteceu a mesma coisa. O guarda olhava com curiosidade o passaporte brasileiro. Ele confessou que nunca tinha visto um brasileiro passando por aquela fronteira. Realmente eu era uma "celebridade".
Do outro lado, em frente a um supermercado fechado, estava um carro parado. O Pr. Daniel disse: "São os nossos irmãos. Eles vão nos guiar pela estrada por um tempo."
Iniciamos agora a nossa viagem agora por uma estrada pior ainda.
Na verdade, como queríamos passar com os equipamentos pela fronteira, tomamos umas estradas que não tem muito trânsito. E com toda aquela neve caindo vimos alguns acidentes. Felizmente o anjo do Senhor esteve nos guardando. É muito perigoso viajar à noite com toda aquela neve e gelo no asfalto. E não pense que o Pr. Daniel ia devagar, ele tem um pé bem pesado.
O carro ia á frente abrindo caminho. Na estrada eu via apenas o sinal de pneu do carro da frente, e isso indicava que ninguém estava passando por aquela estrada. Comecei a pensar no que ocorreria se o carro quebrasse por ali. Afinal já estávamos na estrada por uns 15 minutos e eu ainda não tinha visto nenhum carro vindo na direção contrária.
Depois de aproximadamente 1 hora, o carro parou em um posto de gasolina, que obviamente estava fechado.
Começou agora o processo de colocar os equipamentos de volta ao carro do Pr. Daniel.
Nos despedimos. Eles voltaram e nos seguimos em frente. Agora estávamos sozinhos de novo na estrada.
Equipamentos do jeito que embalei para a viagem.
Chegamos em Chisinau, perto de 2 da madrugada. A neve tinha diminuído e o Pr. Daniel começou a procurar a União Adventista da Moldova. Demoramos cerca de 1/2 hora tentando achar o caminho, mas finalmente chegamos ao lindo prédio da União. Descemos do carro e nos dirigimos para o último andar onde há um apartamento com três camas.
Não foi preciso muito esforço para dormir.
Fachada da União da Igreja Adventista de Moldova
A manhã daquela sexta-feira foi gasta visitando o lugar onde seria feita a transmissão, comprando material para o cenário e tentando comprar alguma coisa que precisávamos para a transmissão. Deixamos para almoçar depois das 15 horas, pois tínhamos que aproveitar o dia. O por-do-sol seria às 16:30.
Naquela sexta à noite fui à igreja que fica ao lado da União. O frio continuava em torno de -17, mas a igreja, que cabe uns 250 membros estava cheia. O Pr. Peter (da Divisão Euro-Asiática) pregou. Eles conseguiram alguém que falava espanhol, e ela foi traduzindo para mim.
No final do culto veio o convite para pregar. Aceitei pregar em espanhol, para que a pessoa traduzisse para o Romeno.
Igreja no prédio da União da Moldova. Preguei nessa igreja em espanhol.
Pregando em espanhol na Moldova
O sábado continuava frio. Na verdade, o aquecimento do prédio não estava dando conta do recado, eu dormi todo encapotado e com várias cobertas para não passar frio.
Quando cheguei à igreja, eram perto de 9:00 e a igreja já estava com muita gente. Falei com minha tradutora sobre o que falaria. Repassei o sermão com ela, pois assim ela se familiarizaria com o que eu iria falar. Mas eu alertei, que poderia mudar tudo se achasse que deveria. Ela riu.
Houve lindas mensagens musicais e chegou a hora do sermão. Eu estaria pregando em espanhol, ela traduziria para o Romeno, que é a língua falada na Moldava, e uma câmera de TV levaria minha imagem para outra sala onde estariam traduzindo para o russo.
Falei sobre o trabalho da TV no Brasil, do sonho que temos para a nossa divisão, aqui na euro-ásia e sobre as conferências que ocorreriam em março. O tempo passou tão rápido, que o sermão que eu tinha preparado, ficou para mais tarde.
De fato o pastor da igreja me convidou para pregar de novo à noite.
Às 17:00 horas, lá estava eu de novo. Dessa vez preguei o sermão que havia preparado. A igreja estava cheia e o frio continuava forte. O culto foi até 18:30, mas os irmãos pareciam que não queriam ir embora. Impressionante.
Aquela noite foi excepcionalmente fria. O domingo amanheceu com um lindo sol, mas com -22. Saí fora para fazer umas fotos, mas era torturante tirar as luvas para fotografar. Tudo dói. E se não tomar cuidado se congela. O vento era muito forte, o que fazia com que a sensação térmica fosse de -30 ou mais baixo ainda.
Jardim da União da Igreja Adventista na Moldova
Voltamos pra casa naquele domingo.
Moldova é um país que ainda está alguns anos atrás do Brasil. Na verdade algumas coisas que eu vi aqui, nós já não temos mais no Brasil.
Fizemos o mesmo caminho de volta. No caminho, estava muito frio, o gelo se formava na janela do carro, por dentro. Eu tentava tirar, mas não dava. Se eu molhava um pano e passava na janela, isso só fazia juntar mais água para congelar. Portanto me conformei em meu banco e juntei as pernas e as mãos e torci para a viagem ser rápida. Mas eu sabia que 500 quilômetros em estradas não boas e com neve nunca é rápido.
No meio do caminho fiquei com vontade de usar o banheiro. O Pr. Daniel parou para abastecer o carro e eu aproveitei. Me disseram que o banheiro era no fundo. Fui para o fundo. Olhei e vi uma escada com neve de ambos os lados, mas alguém tinha retirado a neve do caminho. Lá estava a "casinha" com duas portas. Quando abri a porta quase não podia acreditar. Só tinha visto aquilo quando era menino no interior de São Paulo na década de 60. Realmente era uma volta no tempo. Eu estava entrando em uma "privada".
Os mais novos, com certeza não têm idéia do que eu estou falando, mas é uma espécie de banheiro, com um buraco no chão, com visão de tudo o que tem lá dentro.
Claro que como estava nevando, tudo estava congelado, portando o mau cheiro não estava presente. Ainda bem. Não tinha escolha, era aquele ou atrás do gelo.
Chegamos em casa as 3 da madrugada. Foi uma experiência que eu voltaria a fazer no mês seguinte.
O frio foi criando longas pontas em nossa janela formando um pingentes parecidos com aquelas formas que se encontram nas cavernas. Mas eram bonitas de se ver, mas tivemos que quebrá-las para evitar algum acidente. Se alguma daquelas pontas caíssem sobre alguém poderia ferir gravemente.
Apesar do frio tudo continua como se nada estivesse acontecendo, portanto íamos ao trabalho, a escola e ao supermercado.
Me lembro de um dia em que a Priscila foi com o Samuel ao Supermercado e ela comprou água mineral em um vasilhame de 6 litros. Como o super-mercado está a cerca de 800 metros de casa ela veio trazendo a água mineral segurando por uma espécie da argola que tem no vasilhame. Quando chegou em casa, teve uma surpresa: a água estava começando a congelar. Havia diversos pedacinhos de gelo dentro do vasilhame. É frio para ninguém por defeito.
Enquanto isso no Brasil o calor estava fazendo o povo derreter.
Carro do Hope Channel coberto de neve