Aeroporto de Moscou
O final do ano de 2010 chegou com um inverno severo em alguns países da Europa. Diversos aeroportos fecharam por causa da intensa neve que caiu. E o aeroporto de Moscou não foi exceção.
Na verdade, durante dois dias, o maior aeroporto de Moscou, passou por um verdadeiro caos por causa da nevasca que caiu sobre a cidade. Houve um problema com os cabos que levavam energia elétrica ao aeroporto e isso fez com que ficasse totalmente às escuras e sem aquecimento adequado em pleno inverno. Centenas de pessoas estavam no aeroporto sem saber o que fazer.
Em minha casa eu olhava essas notícias pela TV e pensava na viagem que iria fazer a Moscou no início de Janeiro.
Seria possível fazer essa viagem? Por que foi escolhida essa data para essa viagem? Por que não marcaram essa viagem para o verão?
Essas eram perguntas que vinham a minha mente.
Em Kieve não tivemos muita neve e também a neve deu uma trégua nos outros países da Europa.
O dia 11 de Janeiro chegou e lá estávamos nós, eu e o Pr. Daniel Reband, no final da tarde, no aeroporto de Kiev para uma viagem de pouco mais de uma hora até Moscou.
Tudo correu bem. Chegamos a Moscou com uma temperatura agradável para essa época do ano, cerca de 4 graus negativos.
Era a primeira vez que chegava a Moscou por avião, todas as vezes anteriores havia vindo de carro.
Como acontece em toda viagem internacional fui para o guichê da polícia local. Entreguei o meu passaporte e logo a policial começou a procurar o meu visto para a entrada no país.
Mas, desde Junho de 2009, os brasileiros não necessitam de vistos para uma viagem de turismo à Rússia. E eu pretendia entrar como turista.
O Pr. Daniel Reband observava à distância para ver se tudo correria bem. Ainda existe muito medo por parte das pessoas mais antigas que sofreram com o antigo regime soviético. Eles ainda sentem como se a polícia estivesse observando tudo e a qualquer momento podem ser punidos por algo que fizeram. Pelo menos é o que sinto convivendo com eles.
A policial não fazia nenhuma pergunta. Olhava o passaporte e procurava por um visto. Chegou à última página e lá havia alguns carimbos que atestavam que eu já estivera na Rússia outras vezes. Senti que isso a intrigou. Afinal, se eu já havia estado ali anteriormente, é porque não havia necessidade de visto. Abriu a sua bolsa e tirou de lá uma folha com o que parecia uma lista de países que não precisam visto. E parece que ali constava que o Brasil não precisa de visto.
Com isso eu percebo que o número de brasileiros que tem vindo à Rússia não devem ser em grande número.
Ela não disse nada. Carimbou e me devolveu o passaporte.
Passei e aguardei o Pr. Daniel. Ele veio e perguntou se ela tinha perguntado algo. Eu disse que não. Parece que ele ficou feliz.
Lá fora alguém estava nos esperando.
O Pr. Daniel o saudou dizendo:
"E aí? Como é que vai a vida?"
O abraçou afetuosamente e fomos em direção ao carro.
Os sinais da nevasca ainda estavam presentes. Muita neve para todo o lado que se olhava.
Embora esse seja o aeroporto mais próximo da Divisão Euro Asiática e não ser horário de tráfico, a viagem demorou cerca de uma hora. Chegamos ao prédio da Divisão às 23 h. Fui para o meu quarto e vi que algumas coisas por aqui são bem diferentes do Brasil. Ninguém perguntou se havia interesse em jantar alguma coisa. Mas... eu não estava com fome mesmo! Afinal o pacotinho de castanhas e a barrinha de chocolate no avião estavam ótimas. Sem contar o copinho de suco de maçã.
O Pr. Daniel disse:
"Saímos amanhã às 6 da manhã. Esteja pronto com a mala e tudo, porque o pastor que nos levará não gosta de esperar."
Coloquei o meu celular para despertar, e fui dormir. No outro dia, às 5:55 já estava indo para baixo. Lá no estacionamento, o carro estava nos esperando. Foi o tempo de colocarmos as malas e partirmos em direção a Zaósky. O café da manhã também teria que ser mais tarde.
Universidade Adventista da Rússia em Zaósky
Eu já tinha estado em Zaósky, mas desta vez tudo estava branco por causa da neve. Aqui é o local onde fica a Universidade Adventista de Zaósky.
Viemos aqui para definir os últimos detalhes da campanha evangelística que ocorreria no mês fevereiro e março.
Tomamos o nosso desjejum no colégio. Um pouco diferente para os padrões brasileiros, mas o mundo é assim mesmo.
Aproveitei para tirar umas fotos do lugar. O prédio de aulas, a igreja, o dormitório. Este é o local onde muitos tem-se preparado para levar a mensagem aos mais distantes locais em nossa divisão.
Fachada do prédio de aulas e administração
Portão de entrada e dormitório ao fundo
Prédio de aulas
Vários pastores da Divisão, União, Associação local e do colégio estavam reunidos. Assisti toda a reunião, mas o meu russo ainda é muito rudimentar para contar todos os detalhes dessa reunião. Mas parece que todos ficaram satisfeitos.
Pastores reunidos para definições da campanha evangelística em Fevereiro
Igreja da Universidade onde se realizará a campanha evangelística
Após o almoço partimos de volta a Moscou. Iríamos pegar o avião para a cidade de Rostov-on-Don. Chegamos ao aeroporto mais movimentado de Moscou, o aeroporto de Domodedovo.
Fiquei surpreso em ver na TV, duas semanas depois, as notícias sobre o atentado que matou diversas pessoas. O esquema de segurança é bastante severo. Todo tipo de aparelho e procedimento como acontece nos melhores aeroportos do mundo.
Prédio com o nome da cidade
Chegamos a Rostov-on-Don à noite e fomos direto para a Caucasus Union Mission. Temos nessa União quase 10.000 membros distribuídos em 128 igrejas.
Sede da Caucasus Union Mission em Rostov-on-Don
Não pude conhecer muito a cidade de Rostov-on-Don, mas é uma cidade bonita, com quase dois milhões de habitantes. Ela está às margens do Rio Don e a 46 quilômetros do mar de Azov. O que conheci da cidade foi o que vi do carro enquanto me deslocava da União para as igrejas, afinal, tínhamos uma missão aqui.
Nossa missão aqui seria ajudarmos na fundação do centro de mídia dessa união.
Foi muito bom participar na gravação dos primeiros programas para nossa TV gravados nessa região da Rússia.
Improvisando um estúdio na União
O que mais me chamou a atenção foi o bom humor, a disposição e a alegria de todos que participaram nas gravações. Parece que estavam realizando um sonho. E por mais rudimentar que fosse as condições de gravação para eles estava ótimo.
Tranformando a igreja em um estúdio para gravação
Grupo cantando para a TV em língua russa
Igreja e sede da Associação local onde foram feitas as gravações
Tive a oportunidade de falar a uma pequena igreja no centro da cidade. Na verdade uma casa que foi transformada em uma igreja. O presidente da Associação traduziu o sermão para o Russo. Foi muito bom visitar 3 igrejas dessa associação que conta com cerca de 3.000 membros batizados.
Uma das igrejas Adventistas de Rostov-on-Don
Parte interna da igreja
Casa transformada em igreja onde preguei no sábado
Dentro dos locais onde improvisamos o estúdio para as gravações estava quente, mas lá fora a neve continuava caindo e deixando tudo um pouco mais branco.
Mais uma vez tenho que agradecer a Deus pelos privilégios que Ele me tem dado.
Uma coisa que é bem diferente do Brasil e alguns outros países é o fato de eu em minhas viagens nunca ter ficado em hotel nessa divisão. Ou a União tem alguns quartos que nos disponibilizam ou então ficamos na casa de algum irmão. Dessa vez não foi diferente, fiquei na casa de um agradável casal que tinha uma filha. Eles me cederam a sua sala e o sofá cama foi ótimo. Se preocupavam porque estava frio e puseram um aquecedor extra para mim. Foi muito bom, porque eu já estava dormindo com um pijama quente, blusa de frio, usando uma coberta e uma manta, mas confesso que ainda estava frio.
Fachada o aeroporto de Rostov-on-Don
No dia 18 de Janeiro fomos para o aeroporto para o nosso retorno para Kiev. Nesse aeroporto a segurança era um pouco maior. O Pr. Daniel me explicou que era por causa da região do Caucasus que tem estado em conflito com a Rússia.
Já na entrada do aeroporto nossas bagagens passaram pelo raio X e nós fomos revistados.
Lá dentro checaram os nossos passaportes e verificaram se tínhamos registrado a nossa estada na Rússia na polícia local. Tudo estava em ordem.
Saímos daquele local e fomos para outro. Ali tudo foi feito de novo. Bagagens foram para o raio X e nós passamos pelo detector de metais.
Fizemos o nosso check in e agora fomos para a terceira e última checkagem. Olharam os nossos passaportes e a mulher não sabia como escrever o meu nome em caracteres russo e queria saber como seria o jeito certo.
Passamos então nossas bagagens mais uma vez pelo raio X e agora estávamos no local onde tomaríamos o ônibus para ir ao avião.
Olhei para a pista, onde já havia alguns aviões e pensei em tirar uma foto. O Pr. Daniel leu meu pensamento e disse:
"Por favor, não tire nenhuma foto neste local."
Eu perguntei por que?
Ele então me explicou que essa região a polícia sempre está de olho e o melhor era não tirar fotos do aeroporto.
Eu disse:
"Pastor, eu estive dando uma olhada na internet e ali tem várias fotos desse aeroporto. Tanto da parte externa como da pista. Qual é o segredo?"
Ele disse:
"Eu sei. Eu sei. Mas é melhor não tirar."
Como eu disse, são os medos do passado que ainda estão presentes no presente.
Uma das fotos do Aeroporto que podem ser encontradas na internet
Quando chegou o momento de irmos para o ônibus eu disfarçadamente "esqueci" um livro Caminho a Cristo no banco.
O pastor olhou e disse:
"É melhor você não deixar esse livro aqui."
Eu perguntei:
"Mas qual é o problema? Eu estou esquecendo o livro. Se alguém da limpeza encontrar eu já estou satisfeito."
Ele concordou com um pouco de medo.
Tomamos o ônibus e fomos para o avião. Não era um avião novo, mas tudo correu bem.
Durante a viagem de quase duas horas eu aproveitei enquanto o pastor foi ao banheiro e coloquei mais três livros nos bolsos das poltronas.
Orei a Deus em silêncio para que Ele dirigisse a pessoa certa para encontrar os livros.
Vocês poderiam perguntar porque não dar os livros para as pessoas?
Eu tentei, algumas vezes e eles polidamente recusam. Acho que são os medos do passado.
O que a igreja tem usado aqui nessa região são jornais evangelísticos. O povo aceita bem o jornal e tem sido uma bênção. Cada país tem a sua maneira de ser evangelizado.
Foi muito bom voltar para casa e poder o tipo de comida abrasileirada que minha esposa tinha feito.